"Não parei, e acho que não vou parar até o dia de ir embora", disse Marco Antônio Vilaça

Matéria para o Jornal do Brasil de Márcia Fortes

Nossos homens em Veneza

Brasileiros expõem na principal bienal do mundo da arte

VENEZA Angelo Venosa, um dos três artistas que estão representando o Brasil na 45ª Bienal de Veneza, estava com cara de assustado ontem, seu primeiro dia na mostra de arte mais importante do mundo. "Isso aqui é enorme", disse Venosa. "É bem diferente, não tem nada a ver com a Bienal de São Paulo. O público é outro." Sem dúvida. O que se passa em Veneza a cada dois anos é uma incomparável reunião do art world.

O pavilhão do Brasil, conforme indica a inscrição na entrada, foi instalado às margens de um canal, atrás da via central do Giardini, onde estão as principais representações dos países do Primeiro Mundo. Mesmo assim, muita gente passou por lá ontem. "Eu não tinha muita expectativa, mas acho que está indo muito bem", disse Venosa, que ficou em pé ao lado de seus trabalhos (esculturas "orgânicas" feitas com ossos e dentes de boi, parafina e ferro), recebendo cumprimentos durante horas. Lá estavam também os outros dois artistas brasileiros participantes, Carlos Fajardo e Emanuel Nassar, todos com seus respectivos galeristas. Outro que marcava presença era Nelson Aguillar, curador do pavilhão brasileiro para esta Bienal de Veneza e também da próxima Bienal de São Paulo.

"Não parei, e acho que não vou parar até o dia de ir embora", disse Marco Antônio Vilaça, que distribuía catálogos da obra de Venosa para os que se mostravam interessados, divulgando assim, o artista que ele representa no circuito internacional. Anthony Haden-Guest, um respeitado crítico de arte inglês, que vive em Nova Iorque, considerou "interessante esta arte canibalista". Já Bruce Naumer, editor da revista Art and auction, não parecia muito interessado no conjunto da arte brasileira. Pior para ele.

A vernissage da mostra brasileira e de outras representações, aberta exclusivamente a convidados do mundo da arte e da imprensa, começou ontem às 11h e seguirá até sexta-feira. Os eventos se sucedem com uma intensidade absurda. Às 16h de ontem, por exemplo, foi a vez da inauguração da Aperto, a sessão da bienal dedicada aos artistas mais jovens, que acontece em um enorme pavilhão, o Corderie, situado no Arsenal (bairro de Veneza próximo ao Giardini). Na Aperto, uma artista brasileira faz presença em meio a uma multidão de artistas de outras nacionalidades. Rosângela Rennó apresenta a instalação Humorais, onde o Código Penal Brasileiro aparece dividido em cinco partes, girando sobre cinco colunas. Diante do Código Penal, em cinco fotografias montadas sobre caixas de luz, estão anônimos cariocas.

Sob um sol de 30 graus, circulando de um local de exibição para outro em ônibus marítimos que deslizam pelo Grande Canal, a audiência convidada para a Bienal parece incansável. Na noite de ontem, todos foram ver uma performance de Peter Greenaway, no Palazzo Fortune. Pelo menos oito outros eventos artísticos estarão acontecendo até sexta-feira, incluindo uma performance da 103, de John Cage; a projeção de Blue, de Derek Jarman; um concerto à meia noite de Larry Rivers e a inauguração da mostra paralela Trans-action, que inclui Pedro Almodóvar.